Cirandas


Considerada a segunda maior festa popular do interior do Amazonas (em número de público, só perde pra o Festival de Bumbás de Parintins), o 15º Festival de Cirandas de Manacapuru acontece nos dias 26, 27 e 28 de agosto, na arena do Parque do Ingá, e deverá atrair mais de 50 mil visitantes para o município.

O festival é promovido pelas Cirandas Grêmio Recreativo Flor Matizada, Associação Folclórica Unidos dos Bairros – Tradicional e Grupo Recreativo e Folclórico Guerreiros Mura, com o apoio da Prefeitura Municipal e do Governo do Amazonas.



Os ensaios diários das três cirandas e as novas músicas do festival desse ano, que tocam nas rádios locais sem parar, mostram que a Princesinha do Solimões já entrou no clima para aquele que está sendo apontado como o melhor Festival de Cirandas da história.


Em Manaus, a brincadeira teve início com o professor José Silvestre do Nascimento e Souza, após aceitar a proposta do diretor do Colégio Comercial Sólon de Lucena, em 1966, para montar um cordão folclórico para a escola.


Depois de tentar apresentar outros tipos de cordões folclóricos aos alunos, Silvestre teria ensinado a “Dança da Ciranda”, que inicialmente ficou conhecida como “Ciranda de Tefé”, já que a brincadeira era oriunda daquele município.


No inicio dos anos 80, sob a orientação do próprio Silvestre, a professora Perpétuo Socorro de Oliveira levou a brincadeira para Manacapuru, montando a ciranda “Flor Matizada” na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré.


O sucesso foi imediato e, rapidamente, duas outras escolas entraram na brincadeira: a Escola Estadual José Mota, que criou a ciranda “Guerreiros Muras”, e a Escola Estadual José Seffair, com a “Ciranda Tradicional”.



Inicialmente uma brincadeira de alunos circunscrita ao período das festas juninas, as cirandas foram evoluindo e ganhando um caráter semiprofissional até se transformarem em autênticos símbolos da cultura popular do município.


Foi quando, em 1997, o então prefeito Angelus Figueira instituiu o 1° Festival de Ciranda no último final de semana de agosto, dissociando as apresentações das brincadeiras do período junino.


Em 1998, para prestigiar as cirandas e transformá-las em um atrativo turístico de alcance nacional, Angelus Figueira construiu um “Cirandódromo”, no Parque do Ingá, tendo sido muito criticado pela população


– Diziam que eu estava louco em construir uma arena de 30 mil lugares para a apresentação de uma brincadeira de estudantes –, recorda Figueira. “Hoje, entretanto, o lugar está pequeno e estamos estudando um novo local para construir uma arena com o dobro da capacidade atual”.


Quando surgiu, no distrito de Nogueira, em 1877, levada por imigrantes nordestinos que foram trabalhar nos seringais da região, a Ciranda de Tefé apresentava o “Auto do Pássaro Carão”, muito semelhante ao “Auto do Boi-bumbá”.


Na versão amazonense, o pescador Manelinho, que vivia constantemente embriagado, resolve matar o pássaro Carão para satisfazer o desejo de comer a ave, formulado pela sua enjoada mulher, que estava grávida.

O Carão é um pássaro negro, que vive nas beiras do rio caçando o caramujo uruá e não faz mal a ninguém.

O pássaro é morto, mas Manelinho logo se arrepende da má ação e procura “seo” Honorato, o Doutor das Ervas, para fazer o Carão ressuscitar.

Com a ajuda das orações de um padre e dos poderes xamânicos de um pajé, o Doutor das Ervas consegue ressuscitar a ave e os cirandeiros dançam para celebrar a sua ressurreição.


Em Manacapuru, os cirandeiros mantiveram as figuras tradicionais, mas introduziram novos elementos, como a Cirandeira Bela (equivalente a Cunhan Poranga no bumbá de Parintins) e a Porta Cores (equivalente a Porta Estandarte).

Também, em vez de encenar sempre a mesma história do pássaro Carão, eles começaram a desenvolver novos enredos, com músicas próprias (“cirandadas”) e a utilização de alegorias gigantescas e de grande apelo visual, a partir de uma produtiva parceria com vários artesãos de Parintins.


Alguns dos passos tradicionais (“Galo Bonito”, “Dona Constância”, “Cupido”) foram mantidos, mas novos passos bem elaborados acabaram sendo introduzidos, deixando a dança mais dinâmica, sexy e bonita.

Entre os enredos já apresentados no Parque do Ingá estão a Lenda do Guaraná, A Lenda da Vitória Régia, A Lenda do Boto Namorador, a Lenda da Juta, a Lenda do Jurupari e até alguns temas contemporâneos como os problemas oriundos da mudança do clima e a degradação ambiental de nossos igarapés.


Cada ciranda se apresenta em uma noite, tendo 2h30 para mostrar seu espetáculo.

A apresentação começa pontualmente as 21h.

Dez jurados estrategicamente posicionados em cabines dentro da arena julgam dez itens, no final as notas são somadas e é declarada vencedora a ciranda que obtiver a maior pontuação.


A ordem de apresentação das cirandas é realizada mediante sorteio público na festa de aniversário da cidade, celebrada no dia 16 de julho.

Este ano, a Ciranda Tradicional abre o festival no dia 26, sexta-feira.

No sábado, 27, será a vez da Flor Matizada e, no domingo, 28, a Guerreiros Mura.

A Ciranda Tradicional vai mostrar o enredo “Urupacanam – Uma Ciranda do Avesso Cantada em Verso e Prosa”.

Suas cores são vermelho, branco e dourado.

Presidida por Filadelfo Pacheco, a Tradicional vai entrar na arena com 20 pares no Cordão de Entrada e 60 pares no Cordão Tradicional.

Seus principais destaques são Brígida Matos (Cirandeira Bela), Yana Monteiro (Porta Cores), Vivaldo Azevedo (apresentador) e Bruno Souza e Marlon Silva (cantadores).



Entre orquestra, pessoal de apoio e figurantes, cerca de 200 pessoas deverão participar da apresentação.

A Flor Matizada vai mostrar o enredo “Manacapuru, Uma Princesinha Cirandeira”.

Suas cores são lilás e branco.

Presidida por Alexandre Queiroz, a Flor Matizada vai entrar na arena com 20 pares no Cordão de Entrada e 70 pares no Cordão Tradicional.

Seus principais destaques são Vanessa Simplício (Cirandeira Bela), Paula Vasconcelos (Porta Cores), Ivan Oliveira (apresentador) e Paulo Filho, o “Bebezinho”, e Erinho (cantadores).

Entre orquestra, pessoal de apoio e figurantes, cerca de 250 pessoas deverão participar da apresentação.



A Guerreiros Mura vai mostrar o enredo “Moisés, o Guerreiro da Liberdade”.

Suas cores são vermelho, azul e branco.

Presidida por Renato Teles, a Guerreiros Mura vai entrar na arena com 20 pares no Cordão de Entrada e 75 pares no Cordão Tradicional.

Seus principais destaques são Valnisnéria Segadilha (Cirandeira Bela), Sabrina Sales (Porta Cores), Klinger Araújo (apresentador) e Gamaniel Pinheiro (cantador).

Entre orquestra, pessoal de apoio e figurantes, cerca de 250 pessoas deverão participar da apresentação.



Após 14 anos de disputas, a ciranda Guerreiros Mura possui sete títulos, a Flor Matizada, cinco, e a Tradicional, dois.

A disputa desse ano promete ser mais acirrada do que nunca.


História da ciranda

Não se sabe ao certo a origem da ciranda.

A maioria dos pesquisadores acredita que a dança surgiu na Europa (em Portugal, mais precisamente).

Já outros historiadores acreditam que ela se originou a partir dos pescadores brasileiros que observando o balançar das ondas criaram um folguedo tentando imitar esses movimentos.


Nas pesquisas realizadas sobre esse folguedo, verifica-se que seu surgimento no Brasil ocorreu, simultaneamente, tanto na zona litorânea de Pernambuco quanto em certas áreas, mais interioranas, da Zona da Mata.

Nos primórdios, o ambiente de apresentação restringia-se aos locais populares como as beiras de praia, os terreiros de bodega e as pontas de rua.

Seus participantes eram basicamente estivadores, portuários, trabalhadores rurais, pescadores, operários de construção e biscateiros, entre outros.

Etimologicamente, a palavra “ciranda” foi alvo de muitas interpretações.

Para o padre Jaime Diniz, pioneiro no estudo do tema, ela é proveniente do vocábulo espanhol “Zaranda”, que é um instrumento de peneirar farinha daquele país e que teria evoluído da palavra árabe “Çarand”, como afirma Caldas Aulete no seu “Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa”.

É muito comum na literatura brasileira a definição de ciranda como uma brincadeira de roda infantil.

De fato, nas demais regiões do Brasil ela é um costume exclusivo das crianças.


Porém, nos estados de Pernambuco e Amazonas, trata-se de um folguedo original, contando principalmente com a participação dos adultos.

Como o coco, ela é uma dança bastante comunitária, não tendo nenhum preconceito quanto ao sexo, cor, idade, condição social ou econômica dos participantes.

Não existe limite numérico para esta brincadeira.

Geralmente começa com uma pequena roda de poucas pessoas, que vai aumentando à medida que outros chegam para dançar.


Estes “atrasados” abrem o círculo soltando as mãos dadas dos primeiros integrantes, inserem as suas e entram sem a menor cerimônia.

A saída do participante por cansaço ou por qualquer outro motivo ocorre da mesma forma, sem maiores satisfações.

Se a roda atinge um tamanho que dificulte sua movimentação, forma-se outra menor no seu interior.

O objetivo é a alegria de todo mundo!


Os integrantes das cirandas são denominados de cirandeiros e cirandeiras.

Tradicionalmente, além destes últimos, compõem também o folguedo o mestre, o contra-mestre e os músicos, que ficam no centro da roda.

Cabe ao mestre a responsabilidade de iniciar e comandar a animação, de tirar os cantos, de tocar o ganzá, e de manter a ordem quando necessária.

Ele utiliza um apito que fica pendurado no pescoço para auxiliá-lo nas suas funções.

É o integrante mais importante e muitas vezes seu nome serve de identificação da ciranda (ex.: a ciranda de Baracho, a ciranda de Lia, etc.).


O ganzá, a zabumba e o tarol formam o instrumental básico de uma ciranda tradicional.

Às vezes, encontram-se ainda a cuíca, o pandeiro, a sanfona, ou algum instrumento de sopro.

As músicas cantadas pelo mestre podem ser aquelas já decoradas (dele ou de outros mestres), improvisações, ou até mesmo canções comerciais de domínio público transformadas em ritmo de ciranda.


Uma das cirandeiras mais famosas é Maria Madalena Correia do Nascimento, a Lia de Itamaracá.

– Ciranda acompanha as ondas do mar, sempre com o pé esquerdo –, diz Lia.

Lia de Itamaracá foi descoberta, ainda na década de 1960, pela compositora Teca Calazans, que fazia pesquisas musicais no Nordeste.

Na Ilha de Itamaracá, perto do Recife, ela encontrou em Lia uma fonte de muitas cirandas e outros ritmos nordestinos.

Foi aí, que Teca Calazans resgatou um dos versos mais conhecidos do cancioneiro popular brasileiro: “Oh, cirandeiro/ cirandeiro, oh/ a pedra do teu anel/ brilha mais do que o sol”.

Teca Calazans deu o crédito a sua fonte com o seguinte complemento na canção que compôs: “Esta ciranda, quem meu deu foi Lia/ que mora na Ilha de Itamaracá”.

A cirandeira gravou seu primeiro disco, “A Rainha da Ciranda”, em 1977, pelo qual não recebeu nenhum tostão.

Lia continuou a trabalhar como merendeira em uma escola pública da rede estadual.


Quase 20 anos depois, foi redescoberta pelo produtor musical Beto Hees, que a levou para participar do festival Abril Pro Rock, realizado no Recife e Olinda em 1998.

A partir de então, Lia, que faz músicas desde os 12 anos, passou a fazer shows por todo o Brasil e no exterior.


Ela voltou a gravar um álbum em 2000, o CD “Eu Sou Lia”, com repertório que incluía coco de raiz, loas de maracatu e, claro, cirandas.

O trabalho foi lançado na França e nos Estados Unidos, onde o New York Times chamou Lia de “diva da música negra”.

Em terras brasileiras, a cirandeira passou a conquistar mais e mais espaço.

Ela, que já havia sido imortalizada nos versos “Eu sou Lia da beira do mar/ Morena queimada do sal e do sol/ Da Ilha de Itamaracá”, de Paulinho da Viola, participou do CD do grupo Nação Zumbi e foi citada por Lenine e Otto.


Na sua forma mais simples, a ciranda consiste de uma grande roda formada por mulheres, homens, rapazes, moças e crianças, de mãos dadas, que movimentam o corpo, simulando o movimento das ondas do mar.

Girando à direita, com os braços e pés em movimentos graciosos, todos ondulam os seus sonhos acompanhando as canções tiradas pelo mestre que, quase sempre está no centro da roda ou lado.

O mestre cirandeiro, também chamado de “puxador de ciranda”, é acompanhado por uma pequena orquestra que tem o ritmo marcado pelo zabumba e o tarol.

As pessoas repetem os versos do “puxador”.


Os passos da dança variam com a própria dinâmica da manifestação, não sendo, portanto, definitivos.

Pode-se, porém, destacar os três mais conhecidos dos cirandeiros: a onda, o sacudidinho e o machucadinho, que ainda hoje são executados pelas cirandas de Manacapuru.

A brincadeira não possui figurino próprio, estando seus integrantes livres para utilizarem todo tipo de roupa.


A ciranda é a mais simples de todas as danças populares.

Não requer prática, nem habilidade.

Seu ritmo lento e suave permite também a participação de pessoas idosas e atrai crianças pela facilidade e singeleza, dando oportunidade de expressão corporal até aos mais tímidos.

E Manacapuru mostrou que era possível a dança evoluir e se modernizar sem perder a magia.saiba mais:http://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_de_Ciranda_de_Manacapuru

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Cirandas Unknown Rating: 5 quarta-feira, 24 de julho de 2013

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